terça-feira, junho 28

Just for the heck of it.

I still believe in liberalism today as much as I ever did, but, oh, there was a happy time when I believed in liberals...
G. K. Chesterton

A liberal is a man too broadminded to take his own side in a quarrel.
Robert Frost

A liberal is a man who leaves a room when the fight begins.
Heywood Broun

segunda-feira, junho 27

Papo de botequim.



Ouvi uma conversa diferente, num restaurante. Eram dois casais de mais de trinta, com os filhos, todos pequeninhos, desmontando a mesa, enquanto os pais e as mães alternavam, com uma facilidade incrível, urros ferozes e biquinhos melosos.
Um dos casais repetia a lenga-lenga da desesperança pátria. Queriam emigrar para a Nova Zelândia, para a Itália, para os EUA, até, para fugir da violência e dos horizontes tupiniquins. O homem do outro casal era audivelmente francês, e balançava a cabeça, detentor de segredos superiores.
Foi sua mulher que disse: - Pois mudamos de Paris para São Paulo justamente por causa da falta de perspectivas e pela qualidade de vida. Lá em Paris, babás ganham mais que eu, na clínica. E olhe que eu tinha pacientes…
Só então percebi que num canto da mesa havia uma mocinha mulata, de roupa branca e cabelo preso. Comia o mesmo que as crianças e ao lado delas - penne ao sugo e batatas smiles, Deus os perdoe.
A conversa deles continuou, com as reclamações de praxe contra os impostos exagerados, e os planos de saúde, e as taxas de condomínio e as mensalidades escolares, muito embora, todos ali - menos o francês - confessassem terem votado no FHC pelo menos uma vez, e no Lula, na última.
Socialismo moreno é assim: aumentamos a diferença social, damos empreguinhos com salário de miséria aos empregados - que, como antes de 1888, são da família, são da família - e defendemos a igualdade. Pelo menos da porta de casa prá lá.

sexta-feira, junho 24

Doctor Chesterton.


"Materialists and madmen never have doubts".

Doctor Chesterton's Orthodoxy Pills.

What we suffer from today is humility in the wrong place. Modesty has moved from the organ of ambition. Modesty has settled upon the organ of conviction, where it was never meant to be. A man was meant to be doubtful about himself, but undoubting about the truth.

quarta-feira, junho 22

Quem te viu...

O Chefe tem feito de tudo para provar que o seu governo é de direita e, por isso, a esquerda merece outra chance (com ele mesmo, claro).
Ainda assim, sua última declaração, prestada a repórteres da Sexy, da Playboy e da G-Magazine chocou pelo conservadorismo: “a gente não pode colocar pessoas desnudas na frente da sociedade”.
Nos arquivos deste bloguinho, contudo, encontrou-se prova de que nem sempre as coisas foram assim.

Na foto: o metalúrgico mostra o piquete. Vê-se que, na época, tinha posto atrás.

terça-feira, junho 21

Botões.

Pretendo, dia desses, reeditar grandes partidas de futebol de botão que animaram minha não-tão-distante infância. Contudo, na falta dos botões de celulose da falecida Brianezi, vou encomendar os novos times ao Edu.

E, para que ninguém diga que jogar botão é coisa de criança, a primeira partida vai ser entre a Literatura Luso-Brasileira e a Literatura do Resto do Mundo (no melhor estilo argentino).

Os escretes devem ser anunciados à José Silvério ou à Fiori Gigliotti, para os mais conservadores. Para os esquerdas, a narração pode ser feita à Osmar Santos, muito embora não valha berrar “Diretas Já”, nem cantar o hino imitando a Fafá. Galvão Bueno é sacrilégio, senão para tirar sarro: pode-se, quando muito, imitar o grito da torcida mais escondido pela TV brasileira: Galvãã-ão – viaaaaaaaaaaaaaado!!

Abrem-se as cortinas e entra em campo o time lusófono: com a número um, Camões. Apesar de cego de um olho, faz as melhores defesas da Língua Portuguesa. Na lateral direita, o Pata da Gazela, Alencar; Eça e Camilo fazem a zaga mais segura e que cometeu o menor número de faltas em toda a história lítero-futebolística do mundo. Na lateral esquerda, P’ssoa. Espera-se que não cave tanta falta, porque é um fingidor de primeira. Montelo, o homem de São Luis, é um grande desarmador – ao menos de espíritos. Sabino, o grande craque das Gerais, está encarregado da ligação do meio de campo com o ataque. Na ponta-direita, Lobato, com o seu futebol caipira e moleque. Rosa, dispensa adjetivos – o maior goleador da Língua Portuguesa. Com a dez, ele, Machado (Machado-o-o-o, faz um efeito especial de eco, no fundo), insubstituível. O pai da matéria. E na ponta-esquerda, com dribles lingüísticos maneiros, vem Veríssimo (o filho; o pai joga mais pelo meio). No banco, se for necessário recorrer ao futebol-arte, estão à disposição Bandeira, Quintana e Sá-Carneiro. Além deles, para jogar ao lado de Sabino, formando o quadro mágico, estão Mendes Campos, Braga e Lara Resende.

Não aceito críticas, porque o time é meu, e pronto. Quem quiser, que monte o seu, e fazemos um campeonato.

E dia desses posto a seleção contrária.

segunda-feira, junho 20

Dialética pela metade.

Assisti, esfregando as mãos (uma na outra, uma na outra) o início do que prometia ser um fogoso debate entre licenciosos e conservadores. Até Dom Alexandre pôs o seu dedinho (opa-opa) na briga – que, no final, acabou em nocaute técnico, no primeiro assalto, com toalha branca e tudo.

Mas confesso que torcia para o lado de lá. Quem sabe me convenciam a praticar umas libertinagens por aí…

domingo, junho 19

Arrótulo.

Rotular, no sentido anos 80 da palavra, limita.

Por isso que é feio ter preconceitos: um cara pode ser preto ou branco, mas ele nunca será só preto ou branco; pode ser straight ou gay, mas isso também não o define completamente; pode ser norte-americano e, gosh, saber que Brasília é a capital do Bananão (aliás, o que é mais comum é ver caras voltando de lá, falando: “puxa, quando você os conhece, assim, de perto, os norte-americanos não são tão malas assim”. E assim é em toda a parte, e com qualquer preconceito: eu mesmo, da última vez que voltei da Argentina, comecei a considerar razoavelmente viris aqueles beijinhos entre homens. Mas, divago).

Por isso, irrita quando chamam que não vai com o mainstream de neocon, de neonazi, de olavete, de direitista, de conservador.

Conservadores et caterva (me included), na maior parte das vezes, não gostamos do rótulo porque indica um limite: passa-se a idéia de um grupo de rednecks armados, vestidos como o Rambo, numa fazenda do meio-oeste.

Claro, não é nada disso: há, entre nós, neguinhos (opa) de todas as raças. Até gays, desconfio (me excluded). A grande coisa que temos em comum é não gostarmos desses rótulos, porque parecem tapa-olhos.

E o que é mais fascinante, nisso tudo, é que quem é de esquerda, gosta do rótulo: ah, eu sou de esquerda! (bate no peito, põe adesivo no carro, compra camiseta, pendura bottom de estrelinha, pinta a cara…).

Então ficamos assim: no more direita e esquerda, no more conservadores e liberais. Agora seremos rotulados e desrotulados.

quinta-feira, junho 16

Como só os italianos podemos ser.

Return to me
Oh my dear
I'm so lonely
Hurry back, hurry back
Oh, my love, hurry back, I'm yours

Return to me
For my heart wants you only
Hurry home, hurry home
Won't you please hurry home to my heart

My darling, if I hurt you I'm sorry
Forgive me and please say you are mine
Return to me
Please come back bella mia
Hurry back, hurry home to my arms
To my lips and my heart

Ritorna a me
Cara mia ti amo
Solo tu, solo tu, solo tu, solo tu
Mio cuore



(Click on Dino to hear the song. It will be available for a month, only.)

quarta-feira, junho 15

Jeffer-sam.

Victory and defeat are matters of the temporary force of circumstances. The way of avoiding shame is different. It is simply in death.
Na foto: o nobre Deputado prepara-se para depor.

terça-feira, junho 14

Doctor Chesterton's Orthodoxy Pills.

Neither modern science nor ancient religion believes in complete free thought. Theology rebukes certain thoughts calling them blasphemous. Science rebukes certain thoghts by calling them morbid.

segunda-feira, junho 13

“Não me inveje, trabalhe” (impresso colado na parede atrás do caixa da Daslu).

Essa história de descer a lenha na Daslu, de contrastá-la com a favela vizinha, lembra muito a eterna reclamação contra o imperialismo ianque: somos pobres não por nossa própria incompetência, mas porque eles são ricos.

Ou, para encurtar: dor-de-cotovelo.

sexta-feira, junho 10

Sérgio Ferro.

Não o conheço, nunca o vi. E, ao vivo mesmo, vi pouquíssimos de seus raros quadros.

Mas Sérgio Ferro é, para mim, especialmente do ponto de vista da técnica, o maior pintor brasileiro de todos os tempos. (Também acho, é bom confessar, Michelangelo o maior gênio da pintura mundial, seguido de perto por Caravaggio – daí, talvez a predileção nacional).

O que me fascina, nesse cara, é que ele é egresso da FAU (aluno e professor), faz parte da geração que cunhou o termo sociopolítico. É costumeiramente homenageado, até, pelo MST – a quem doou uma dúzia de telas e em quem deposita esperanças. Mora, claro, na França (todo mundo ainda diz –foi exilado), onde é bem mais fácil ser socialista, ainda hoje.
E, ainda assim, suas pinturas e sua temática são conservadoras, eternas. Ele não superou a fase figurativista, como fazem todos; não cansou de desenhar cotovelos como cotovelos, para substituí-los por triângulos verdes. Não: cotovelos continuam cotovelos – mas lembram a Sistina, evocam Deus.

Nele, ars gratia artis. E isso é tão raro, tão raro.

Tenho razão?

Tenho razão.

quinta-feira, junho 9

On Being Humble.

Notícias, notícias quentinhas. Notícias de Piracicaba. (Um post à la DGR, ma non troppo)

Vendo os jornais de hoje, fiquei com saudades do tempo em que se dizia que eram os comunistas que comiam criancinhas.

E ouvido a entrevista de um tal Delúbio, percebi qual é o problema desse singular governo: falta de concordância.

terça-feira, junho 7

Enobibliomania.

Combinar alimentos com vinho virou um item de estilo. Um must, como se diria tempos atrás. Ir a um restaurante com uma digna representante da oposição, sem saber que Merlots são demodês e que Pinots Noirs são jóinha, pode ser fatal, dependendo da idade dela (aliás, dependendo da idade dela, pode ser fatal saber essas coisas. Mas, divago).

O Ciro Lilla, simpaticão e bonacheiro, é o maior mestre nessa arte apelidada enogastronomia (nome que, por si só, tira metade do charme da coisa) – não só conhece as combinações perfeitas, mas as divulga com uma didática de normalista. Ele lançou até um livro, que não deve ser ruim.

Mas de tanto entrar nas Saraivonas, nas Culturonas e nas Livrarias das Vilas, percebi que há um outro must em formação: o de combinar livros com música.

Cada qual há de ter suas preferências, é verdade.

Eu, agora, combino Bach, do Chateau Antonio Meneses, com um requintado Blandings Castle.
Há uma perfeita combinação entre os leves taninos bachianos, com o saboroso retrogosto de cada parágrafo de Wodehouse.

As suítes de Bach, aliás, acho que são o Beaujolais da música: vão bem com qualquer livro, mesmo os de sabor mais pronunciado.

Mas há outras músicas, claro, que não combinam com nada: são o Sangue de Boi, de garrafão – só se admite que alguém os beba em festas juninas, lendo Tex. E olhe lá, porque dá uma baita azia.

sábado, junho 4

El Escribidor.

Cara batuta é o Vargas Llosa.

Pouco do que ele fez, acabou no cinema - o último que tentaram fazer, Pantelão e as Visitadoras, saiu parecendo especial da Sala Vip.

E fora esse livro (que é delicioso, de se ler de joelhos, como dizem os gastrônomos mais masoquistas), outro muito, muito bom é o Tia Júlia e o Escrevinhador, semi-autobiográfico - ele, aos dezoito, argolou-se com sua tia, Julia Urquidi, para consternação geral.

Pouca gente escreve com o humor e com a graça dele, naquela época (ultimamente, tem querido ficar sério e histórico. O Paraíso na Outra Esquina, vale pela metade - a história do Gauguin parace contada por um Irving Stone bêbado, mas a da Flora Tristán, só interessa a quem é literalmente do Peru).

Está anos-luz à frente do seu nemesis latrino-americano, o sargento García Márques. Mas é muito menos lido. E ainda tem um filho que é co-autor do Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano. Certamente, nem ele, nem o filho, serão convidados para a FLIP...

sexta-feira, junho 3

Doctor Chesterton's Orthodoxy Pills.

The Earth is so very large, and the cosmos is so very small. The cosmos is about the smallest hole that a man can hide his head in.

quinta-feira, junho 2

The King.

Preciso fazer uma confissão. Li quase tudo do Stephen King.

Li “Carrie”, “Cujo”, “Christine”, “The Shining”, “It”, “Salem’s Lot”, “Night Shift”, “Gerald’s Game” e outros. Muitos, muitos, muitos outros. Juro.

Eu me justificava dizendo que era para manter o inglês up-to-dated – na época eu dava umas aulinhas por aí. Mas era mentira. Lia porque gostava mesmo. Ele conta histórias redondinhas, com começo-meio-e-fim, usa frases com sujeito-verbo-e-predicado, abusa de gíria e de palavrão. E, sobretudo, não passa mensagens. Não tem a síndrome de Esopo, que assola os best-sellers de hojemdia. Conta uma história, e pronto.

Talvez o preconceito com o Mr. King derive dos filminhos bê (e cê), que fizeram com alguns de seus livros: o “It” (“A Coisa”) é horroroso (e o livro é dos melhores, sobretudo para adolescentes e pós); o “Christine” não passa mais nem na Record; o “Silver Bullet” é um lixo (o livro também não e grande coisa), e por aí vai.

Mas os filmes, todo mundo sabe, são sempre inferiores aos livros. E alguns dos livros são tão bons, mas tão bons, que os filmes ficaram ótimos – e ninguém fala que vêm do Mr. King.

“The Shawshank Redemption”, por exemplo (que aqui foi batizado “Um Sonho de Liberdade”, Deus sabe por quê). O filme é ótimo, mas é menor que o livro. E só se fala no desempenho do Tim Robbins e do Morgan Freeman.

Outro: “The Green Mile” (aqui, “À Espera de um Milagre”, explique se puder). O livro é quase um roteiro, de tão preciso. E quem leva crédito é o Tom Hanks. Aí eu digo – "Mas o livro é do Stephen King!". “Jura?!”, dizem. “Pensei que ele só escrevesse terror...”

Mais um: “Misery” (“Louca Obsessão”, tradução que esclarece a doença de quem a fez). É um thriller duro, de deixar sentado na beira da poltrona. Já o livro, não deixa você dormir, por uns três dias. Mas só se fala no desempenho do James Caan e da Cathy Bates (que, por sinal, é bom mesmo).

E tem “Apt Pupil” (“O Aprendiz” – ufa!). Livro e filmes medianos, que têm aparência de politicamente corretos, mas vão um bocadinho além. Só se fala da performance do frutuoso Ian Mckellen; nada de dizer que o livro é do Mr. King.

O “Stand By me” (“Conta Comigo”), que deu fama ao River Phoenix (e, porque não, ao Rob Reiner), também é baseado no livro do Mr. King, muito melhor. Alguém diz, alguém diz? Não.

Até o Governador da Califórnia já fez o “The Running Man” (“O Sobrevivente”), antecipando os reality shows, que certamente ainda virão, onde o prêmio é continuar vivo...

Mesmo a “Carrie, a Estranha” – que cometeu o pecado de mostrar ao mundo a Sissy Spacek; mesmo “O Iluminado” – que também atentou contra o cinema, por dar cartaz ao Jack Nicholson e ao Stanley Kubrick; mesmo o “Secret Window” – que traz a improvável parceria Depp-Turturro, são raramente creditados ao Stephen King.

E todos esses filmes são, pelo menos, passáveis. Logo, os livros são, necessariamente, mais que passáveis!

E até em áudio tem coisa muito boa: ouçam o “The Mist”, gravado em 3D-Audio. Genuíno, bacaninha, diferente. E creepy, very-very creepy.

Enfim, confesso: li quase tudo do Stephen King. E gostei.

quarta-feira, junho 1

Doctor Chesterton's Orthodoxy Pills.

Poetry is sane because it floats easily in an infinite sea; reason seeks to cross the infinite sea and make it finite. (...) To accept everything is an exercise, to understand everything a strain. The poet only desires exaltation and expansion, a world to strecht himself in. The poet only asks to get his head into the heavens. It is the logician who seeks to get the heavens into his head. And it is his head that splits.