segunda-feira, junho 12

No Free Lunch

O fato é que acabei criando, na coluna do jornal da famiglia, uma personalidade moralizadora e didática, que espero que não seja a minha, de fato. E, com a coluna desta semana, o saudoso Conselheiro Acácio estremeceria de júbilo.

Parece que estamos nos cansando de tentar comparar o Brasil com os Estados Unidos para descobrir onde erramos: agora, queremos saber onde foi que eles erraram. Sim, agora temos democracia sólida, economia estável, auto-suficiência de petróleo, solidariedade, risos, alegrias, liberdades – coisas que os norte-americanos, parece, não sabem mais o que é, porque vivem sob a opressão de um tirano warlord.

Mas há alguma coisa que ainda podemos aprender com nossos pobres vizinhos ricos da América de cima. Ficou comum, entre eles, a expressão no free lunch, que quer dizer, claro, que não há almoço grátis. E, se te oferecerem algo assim, desconfie: de um jeito ou de outro, você – ou alguém - vai acabar pagando.

Embora possa parecer uma sofisticação do nosso popular “quando a esmola é muita, o santo desconfia”, não é só isso. O no free lunch também significa que o que você quer, o que você precisa, não vem sem esforço, não vem sem contrapartida. E essa talvez seja a lição mais difícil de aprender, neste lugar onde, desde Rui Barbosa, triunfam as nulidades, prospera a desonra, cresce a injustiça e agigantam-se os poderes nas mãos dos maus.

O estelionato, por exemplo, grassa. (A sensação que se tem é que, não demora, haverá projeto de lei para a sua descriminalização, junto com o uso da maconha e o tráfico em geral. Há gente que sustenta, juro, que essa é a solução para a reduzir a criminalidade. De fato, se legalizarmos o homicídio, a taxa de crimes cairá barbaramente... Mas, divago).

E o estelionato é um delito que, muitas vezes, inclui dois malfeitores: o primeiro autor desse crime é a própria vítima: é o malandro que acredita estar enganando o caipira com o bilhete premiado; é o que paga alguém para lhe garantir uma vaga na faculdade; é o que compra uma sentença; é o que surrupia uma cópia de depoimento sigiloso...

E, como não há almoço grátis, os resultados dessas artimanhas acabam, invariavelmente, recaindo sobre os ombros de alguém: ou do próprio malandro, que descobre que o bilhete é falso; ou dos pais do estudante, que acaba não entrando em faculdade nenhuma; ou da parte contrária, quando há corrupção judicial; ou da sociedade, quando o ato é praticado favorece apenas os criminosos.

Por isso, se algum dia, alguém lhe oferecer o Viaduto do Chá por preço módico, ou um esquema para ficar milionário em uma semana, ou uma oportunidade de pedir aposentadoria precoce, ou uma boquinha no serviço público, é bom lembrar: no free lunch. Alguém vai pagar a conta.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Por minha conta escrevo uma dedicatória para este seu texto (ja disse e repito q sou teimosa: vc escreve divinamente... adoro sua precisão, sua ironia, seu humor, sua seriedade e até mesmo sua persona moralizadora)... bom, a dedicatória: dedico este post à Claudia que acredita em todo mundo até porrada em contrário... que já entrou numa kombi do baú da felicidade crente q tinha ganho um carro naquele momento (entrou pra escolher a cor e que, recentemente, quase (eu disse quase) acreditou que era a vencedora de uma loteria italiana e que receberia, assim, do nada um milhão e meio de euros.. I know.. sou otária, sou otária sou uma máxima otária. But, as vezes acerto... BEIJOS PRA VC!

14.6.06  
Anonymous Anônimo disse...

Por minha conta escrevo uma dedicatória para este seu texto (ja disse e repito q sou teimosa: vc escreve divinamente... adoro sua precisão, sua ironia, seu humor, sua seriedade e até mesmo sua persona moralizadora)... bom, a dedicatória: dedico este post à Claudia que acredita em todo mundo até porrada em contrário... que já entrou numa kombi do baú da felicidade crente q tinha ganho um carro naquele momento (entrou pra escolher a cor e que, recentemente, quase (eu disse quase) acreditou que era a vencedora de uma loteria italiana e que receberia, assim, do nada um milhão e meio de euros.. I know.. sou otária, sou otária sou uma máxima otária. But, as vezes acerto... BEIJOS PRA VC!

14.6.06  

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