No Free Lunch
O fato é que acabei criando, na coluna do jornal da famiglia, uma personalidade moralizadora e didática, que espero que não seja a minha, de fato. E, com a coluna desta semana, o saudoso Conselheiro Acácio estremeceria de júbilo.
Parece que estamos nos cansando de tentar comparar o Brasil com os Estados Unidos para descobrir onde erramos: agora, queremos saber onde foi que eles erraram. Sim, agora temos democracia sólida, economia estável, auto-suficiência de petróleo, solidariedade, risos, alegrias, liberdades – coisas que os norte-americanos, parece, não sabem mais o que é, porque vivem sob a opressão de um tirano warlord.
Mas há alguma coisa que ainda podemos aprender com nossos pobres vizinhos ricos da América de cima. Ficou comum, entre eles, a expressão no free lunch, que quer dizer, claro, que não há almoço grátis. E, se te oferecerem algo assim, desconfie: de um jeito ou de outro, você – ou alguém - vai acabar pagando.
Embora possa parecer uma sofisticação do nosso popular “quando a esmola é muita, o santo desconfia”, não é só isso. O no free lunch também significa que o que você quer, o que você precisa, não vem sem esforço, não vem sem contrapartida. E essa talvez seja a lição mais difícil de aprender, neste lugar onde, desde Rui Barbosa, triunfam as nulidades, prospera a desonra, cresce a injustiça e agigantam-se os poderes nas mãos dos maus.
O estelionato, por exemplo, grassa. (A sensação que se tem é que, não demora, haverá projeto de lei para a sua descriminalização, junto com o uso da maconha e o tráfico em geral. Há gente que sustenta, juro, que essa é a solução para a reduzir a criminalidade. De fato, se legalizarmos o homicídio, a taxa de crimes cairá barbaramente... Mas, divago).
E o estelionato é um delito que, muitas vezes, inclui dois malfeitores: o primeiro autor desse crime é a própria vítima: é o malandro que acredita estar enganando o caipira com o bilhete premiado; é o que paga alguém para lhe garantir uma vaga na faculdade; é o que compra uma sentença; é o que surrupia uma cópia de depoimento sigiloso...
E, como não há almoço grátis, os resultados dessas artimanhas acabam, invariavelmente, recaindo sobre os ombros de alguém: ou do próprio malandro, que descobre que o bilhete é falso; ou dos pais do estudante, que acaba não entrando em faculdade nenhuma; ou da parte contrária, quando há corrupção judicial; ou da sociedade, quando o ato é praticado favorece apenas os criminosos.
Por isso, se algum dia, alguém lhe oferecer o Viaduto do Chá por preço módico, ou um esquema para ficar milionário em uma semana, ou uma oportunidade de pedir aposentadoria precoce, ou uma boquinha no serviço público, é bom lembrar: no free lunch. Alguém vai pagar a conta.
Parece que estamos nos cansando de tentar comparar o Brasil com os Estados Unidos para descobrir onde erramos: agora, queremos saber onde foi que eles erraram. Sim, agora temos democracia sólida, economia estável, auto-suficiência de petróleo, solidariedade, risos, alegrias, liberdades – coisas que os norte-americanos, parece, não sabem mais o que é, porque vivem sob a opressão de um tirano warlord.
Mas há alguma coisa que ainda podemos aprender com nossos pobres vizinhos ricos da América de cima. Ficou comum, entre eles, a expressão no free lunch, que quer dizer, claro, que não há almoço grátis. E, se te oferecerem algo assim, desconfie: de um jeito ou de outro, você – ou alguém - vai acabar pagando.
Embora possa parecer uma sofisticação do nosso popular “quando a esmola é muita, o santo desconfia”, não é só isso. O no free lunch também significa que o que você quer, o que você precisa, não vem sem esforço, não vem sem contrapartida. E essa talvez seja a lição mais difícil de aprender, neste lugar onde, desde Rui Barbosa, triunfam as nulidades, prospera a desonra, cresce a injustiça e agigantam-se os poderes nas mãos dos maus.
O estelionato, por exemplo, grassa. (A sensação que se tem é que, não demora, haverá projeto de lei para a sua descriminalização, junto com o uso da maconha e o tráfico em geral. Há gente que sustenta, juro, que essa é a solução para a reduzir a criminalidade. De fato, se legalizarmos o homicídio, a taxa de crimes cairá barbaramente... Mas, divago).
E o estelionato é um delito que, muitas vezes, inclui dois malfeitores: o primeiro autor desse crime é a própria vítima: é o malandro que acredita estar enganando o caipira com o bilhete premiado; é o que paga alguém para lhe garantir uma vaga na faculdade; é o que compra uma sentença; é o que surrupia uma cópia de depoimento sigiloso...
E, como não há almoço grátis, os resultados dessas artimanhas acabam, invariavelmente, recaindo sobre os ombros de alguém: ou do próprio malandro, que descobre que o bilhete é falso; ou dos pais do estudante, que acaba não entrando em faculdade nenhuma; ou da parte contrária, quando há corrupção judicial; ou da sociedade, quando o ato é praticado favorece apenas os criminosos.
Por isso, se algum dia, alguém lhe oferecer o Viaduto do Chá por preço módico, ou um esquema para ficar milionário em uma semana, ou uma oportunidade de pedir aposentadoria precoce, ou uma boquinha no serviço público, é bom lembrar: no free lunch. Alguém vai pagar a conta.
2 Comentários:
Por minha conta escrevo uma dedicatória para este seu texto (ja disse e repito q sou teimosa: vc escreve divinamente... adoro sua precisão, sua ironia, seu humor, sua seriedade e até mesmo sua persona moralizadora)... bom, a dedicatória: dedico este post à Claudia que acredita em todo mundo até porrada em contrário... que já entrou numa kombi do baú da felicidade crente q tinha ganho um carro naquele momento (entrou pra escolher a cor e que, recentemente, quase (eu disse quase) acreditou que era a vencedora de uma loteria italiana e que receberia, assim, do nada um milhão e meio de euros.. I know.. sou otária, sou otária sou uma máxima otária. But, as vezes acerto... BEIJOS PRA VC!
Por minha conta escrevo uma dedicatória para este seu texto (ja disse e repito q sou teimosa: vc escreve divinamente... adoro sua precisão, sua ironia, seu humor, sua seriedade e até mesmo sua persona moralizadora)... bom, a dedicatória: dedico este post à Claudia que acredita em todo mundo até porrada em contrário... que já entrou numa kombi do baú da felicidade crente q tinha ganho um carro naquele momento (entrou pra escolher a cor e que, recentemente, quase (eu disse quase) acreditou que era a vencedora de uma loteria italiana e que receberia, assim, do nada um milhão e meio de euros.. I know.. sou otária, sou otária sou uma máxima otária. But, as vezes acerto... BEIJOS PRA VC!
Postar um comentário
<< Home