quarta-feira, junho 28

Saio do blogue para entrar na Itália.

Vou. Mas volto?

sábado, junho 24

Web Surfer?

Você acha que gosta de navegar pela internet, não é?
Tem amigos que indicam sites bacaninhas, não é?
Dude, se você não foi ao stumbleupon, tá no quebra-coco.

sexta-feira, junho 23

Excerpts.

Nothing is more deceitful than the appearance of humility. It is often only carelessness of opinion, and sometimes an indirect boast.

Importance may sometimes be purchased too dearly.

Is not general incivility the very essence of love?

Claro. Afinal, que mulher não bocejaria diante de uma declaração assim:

And now nothing remains for me but to assure you in the most animated language of the violence of my affection.

Pride and Prejudice, ladies and gentlemen. Não saiam de casa sem lê-lo.

segunda-feira, junho 12

No Free Lunch

O fato é que acabei criando, na coluna do jornal da famiglia, uma personalidade moralizadora e didática, que espero que não seja a minha, de fato. E, com a coluna desta semana, o saudoso Conselheiro Acácio estremeceria de júbilo.

Parece que estamos nos cansando de tentar comparar o Brasil com os Estados Unidos para descobrir onde erramos: agora, queremos saber onde foi que eles erraram. Sim, agora temos democracia sólida, economia estável, auto-suficiência de petróleo, solidariedade, risos, alegrias, liberdades – coisas que os norte-americanos, parece, não sabem mais o que é, porque vivem sob a opressão de um tirano warlord.

Mas há alguma coisa que ainda podemos aprender com nossos pobres vizinhos ricos da América de cima. Ficou comum, entre eles, a expressão no free lunch, que quer dizer, claro, que não há almoço grátis. E, se te oferecerem algo assim, desconfie: de um jeito ou de outro, você – ou alguém - vai acabar pagando.

Embora possa parecer uma sofisticação do nosso popular “quando a esmola é muita, o santo desconfia”, não é só isso. O no free lunch também significa que o que você quer, o que você precisa, não vem sem esforço, não vem sem contrapartida. E essa talvez seja a lição mais difícil de aprender, neste lugar onde, desde Rui Barbosa, triunfam as nulidades, prospera a desonra, cresce a injustiça e agigantam-se os poderes nas mãos dos maus.

O estelionato, por exemplo, grassa. (A sensação que se tem é que, não demora, haverá projeto de lei para a sua descriminalização, junto com o uso da maconha e o tráfico em geral. Há gente que sustenta, juro, que essa é a solução para a reduzir a criminalidade. De fato, se legalizarmos o homicídio, a taxa de crimes cairá barbaramente... Mas, divago).

E o estelionato é um delito que, muitas vezes, inclui dois malfeitores: o primeiro autor desse crime é a própria vítima: é o malandro que acredita estar enganando o caipira com o bilhete premiado; é o que paga alguém para lhe garantir uma vaga na faculdade; é o que compra uma sentença; é o que surrupia uma cópia de depoimento sigiloso...

E, como não há almoço grátis, os resultados dessas artimanhas acabam, invariavelmente, recaindo sobre os ombros de alguém: ou do próprio malandro, que descobre que o bilhete é falso; ou dos pais do estudante, que acaba não entrando em faculdade nenhuma; ou da parte contrária, quando há corrupção judicial; ou da sociedade, quando o ato é praticado favorece apenas os criminosos.

Por isso, se algum dia, alguém lhe oferecer o Viaduto do Chá por preço módico, ou um esquema para ficar milionário em uma semana, ou uma oportunidade de pedir aposentadoria precoce, ou uma boquinha no serviço público, é bom lembrar: no free lunch. Alguém vai pagar a conta.

quarta-feira, junho 7

Escrete Canalhinha.

Há os que gostam da Copa, e há os que preferem torcer pela Alsácia contra o Império Austro-Húngaro. Há os que vibrarão com o Ronaldinho Gaúcho e os que preferirão tentar escapar ao apocalipse que tomará nossas ruas, mergulhando em Fitzgerald – Ella, ou ele. Ou ambos.

Eu sempre gostei do “clima da Copa”: o tempo mais frio, as festas juninas, o cheiro de pólvora, o dia dos namorados. Agora percebo que há uma contradição que talvez explique esse paladar diferente: é que a Copa é uma espécie de carnaval, que acontece no mês em que São Paulo está fria, introspectiva, cheia de roupas. Talvez seja o único momento em que é possível engolir a brasilidade.

Para aumentar a contradição, e tentar agradar a Gaúchos e Baianos, sem-querer-querendo, e com a decisiva participação do Jorge Nobre, acabei inventando o même que pede que cada um escale a sua seleção literária (e, claro, passe a bola para mais três coitados).

Eu montei dois times, um lusófono, outro do Resto do Mundo. Mas ainda que a essência do même seja encher a paciência alheia com uma idéia patética, apenas uma seleção bastará.

Convido o Norogna, para ele ficar um pouco menos filiz e, quem sabe, voltar aos dois posts diários; o Matamoros, que já tem o time montado, de-modos-que não será grande perturbação enfiá-lo neste história; o Ruy Goiaba, para ver se eu aprendo a jogar direito, e o Radá, o mais esportista dos membros do wunderteam.

Desculpem, desculpem.

segunda-feira, junho 5

20/20

No sábado, criei vergonha na cara e fui fazer o exame médico da carteira de motorista, vencida desde os 40, em novembro passado. Fui um rebelde por seis meses, correndo o risco de ser, sei lá, preso, exilado, ou jogado numa escolinha para retardados do trânsito.

Aliás, numa noite de janeiro um guarda rodoviário me parou na Rio-Santos, como que adivinhando minha ilegalidade. Eu me apressei, honestíssimo, dizendo que meu exame médico estava vencido, não tive tempo, sabe como é. Ele, por cima dos óculos de grau: “mas é só isso, mesmo? O carro está em ordem?”. “Está”. Não estava – minha mulher, a quem o destino e eu incumbimos de pagar as contas, esqueceu-se de fazer o licenciamento. Escapei, exclusivamente, graças à bondade do guarda e ao meu dom para dramatizar as coisas do cotidiano, porque tinha trinta reais na carteira e não tive coragem de tentar um suborno tão mixuruco.

Apesar do susto, não fui renovar a carteira – foi só a perspectiva de ter que dirigir na Itália, em julho que vem, que me tirou da inércia: talvez o meu italiano não seja suficiente para escapulir ileso de uma blitz napolitana.

Fui, então, ao lugar-de-exame-médico (que não é escritório, não é consultório, não é loja: é o lugar-de-exame-médico). Uma senhora simpática, também por cima dos óculos de grau, me fez um monte de perguntas indiscretas, na frente de outros pacientes-motoristas que aguardavam ali, na recepção: se eu tinha pressão alta, se eu era diabético, se tinha alergias e, cáspita, se eu usava drogas (disse que não, claro. Mas acho que mesmo que eu usasse, não ia confessar na frente daquela pequena multidão de motoristas). Pegou meus documentos e mandou que eu esperasse.

Dois minutos depois, me chamou e mandou que eu falasse com uma mulatinha, que estava sentada ali mesmo, mas de costas para mim, com seu cabelo escorrido, como se fosse uma folha de papel negro e cintilante, sobre uma jaqueta-jeans. E não era uma jaqueta-jeans assim, normal: era daquele jeans que parece sujo de terra, meio amarelado, sabe? Aqueles a gente vê no camelô e pergunta: mas quem é que usa isso, Deus-do-céu? (Agora, pelo menos, já sei: a mulatinha do exame médico). A jaqueta era curtinha, só ia até a metade das costas, e fazia par com a calça, um número menor que a bunda, de modo que, com ela sentada, dava para ver uma calcinha de renda preta – na verdade um elástico na cintura e o início de um insuficiente triangulinho de pano preto, que deve fazer as funções originais da peça. Dessas que a gente vê no camelô e pergunta: mas quem é que usa isso, Deus-do-céu? (Pois é).

A mulatinha, com olhinhos apertados (não fosse pela pele escura, o cabelo preto escorrido e os olhinhos apertados fariam dela uma japonesa de nariz mais largo), mandou – mandou mesmo, juro, com aquele ar de superioridade de quem está na própria rotina e não quer ser incomodado – mandou que eu conferisse na tela os meus documentos. Balbucei, “certo, certo”. Botei o dedo três vezes numa luzinha vermelha e fui mandado de volta para a espera.

Menos de dois minutos depois – a rapidez espantou a todos os que estavam na sala de espera, inclusive a mim, que não entendi a razão do privilégio, e o resto lançou-me olhares de ódio e inveja – fui conduzido à sala da médica. Comecei a tirar as coisas do bolso, mas ela riu: “é com roupa mesmo...”.

Mandou que eu olhasse numa máquina, que deve ter servido para testar o olho de Camões, adivinhando umas letrinhas lá no fundo e depois soltou um flash na minha cara, perguntando se eu conseguia enxergar um “ene” – “Viu o “ene?” “Ahn? Sim, ene, claro!” Tornou a perguntar se eu usava drogas e eu neguei de novo (mas me arrependi, porque talvez ela estivesse oferecendo, e teria sido rude negar).

Já preenchendo minha alforria, elogiou minha visão 20/20, mesmo aos 40, dando ensejo a que eu defendesse a minha tese de que os óculos são os responsáveis pela degeneração da vista. Li em algum lugar que os músculos em volta do globo ocular precisam de exercício, e os óculos os acomodam. Por isso, quanto mais você usa óculos, mais precisa usar – e constatar isso é fácil: você já viu alguém que, usando óculos, ficou curado?

Com um inesperado ar de cumplicidade (chegou até a olhar para os lados, para ver se alguém a vigiava, acho eu), ela disse: “Mas é isso mesmo! Vivo dizendo para minha filha, que também é oftalmo, para não usar óculos! Eu não uso, vê?” Claro que eu via: “20/20, lembra? Ha-há”. Ela fingiu que não escutou essa bobagem e emendou: “Então: eu não uso, e minha miopia regride a olhos vistos” (ou quase isso. Acho que esse trocadilho já é meu, não sei mais). “Minha filha usa, e daqui a pouco, vai ter que operar!” “Que bom”, disse o retardado que coabita o meu corpo. “Pelo menos há quem a opere de graça...” Com essa pérola de inteligência e delicadeza, torcendo a boca numa expressão de desencanto, ela entregou o documento que prova a minha perfeita saúde ocular e me dispensou. Creio que o barulho que ouvi, ao sair, foi ela trombando com a porta, que deixei entreaberta, mas não tive coragem de voltar.

Voltei à senhora da recepção, paguei R$ 47,00 (de onde saem esse números? Por que não R$ 45,00 ou R$ 50,00, de uma vez?), e saí rápido, antes que algum dos outros já impacientes motoristas resolvesse tirar satisfações pelos meus inexplicáveis privilégios. Ganhei a rua com o peito cheio de orgulho e disposto a olhar tudo, só para exercitar.

Portanto, patrulheiros rodoviários, policiais de trânsito, marronzinhos, e população civil em geral, podem sossegar: não sou mais um rebelde. Terei, em breve, carteira válida. A menos, claro, que saia tudo errado porque, cáspita, quem é que podia conferir número de CPF com aquela calcinha preta sob uma visão 20/20?