quarta-feira, outubro 26

É Eça, ora essa.

Pois saibam que “As Minas do Rei Salomão”, a julgar pelo começo, bem poderia ser o enredo do primeiro filme pornográfico luso-brasileiro, com as minas prometendo fazer tudo com o salamão do Rei. Vejam se não estou certo:

“...Pois com toda essa diligência, só ultimamente, há oito meses, arrendondei o meu saco. É um bom saco. É um saco graúdo, louvado Deus. Creio mesmo que é um tremendo saco! E apesar disso, juro que para o sentir assim, redondo e soante entre as mãos, não me arriscava a passar outra vez os transes deste terrível ano que lá vai. Não! Nem tendo a certeza de chegar ao fim com a pele intacta e o saco cheio.”

terça-feira, outubro 25

Estação Paraíso.

Hoje, no metrô, um cara muito alinhado, pelos seus quarenta, que lia “As Minas do Rei Salomão”, serviu de modelo para uma menina de saia e camiseta pretas e meião três-quartos , que traçou os botões todos do paletó, num bloquinho, a caneta preta.

O cara percebeu o desenho, e fez uma certa pose com os ombros – o que os fez parecer desproporcionalmente largos no desenho, já que ele não era muito alto. A menina não tentou disfarçar, embora a sua franja escondesse os olhos (ligeiramente estrábicos, quando apareciam). Guardou o bloquinho e desceu no Paraíso, antes dele.

Mas ele conseguiu perceber, na parte de dentro do braço direito dela, a tatuagem de uma escada – como se ela esperasse alguém que subisse ali, para fazer-lhe cosquinhas. Chegou feliz, em casa.

quarta-feira, outubro 19

Anhangabaú.

Tropecei, outro dia, em uma depressão no calçamento português do Anhangabaú, perto do edifício Conde de Prates. As pedras brancas, ali, pareciam mais brancas, mas o cimento (ou rejunte, sei lá), parecia mais escuro, meio amarronzado.

O tropeção desviou minha atenção do livro que lia, enquanto caminhava – A Doida do Candal. Retomei, na página errada. Margarida murmurou: “Que fiz eu da minha vida!... Como posso eu pôr os olhos no vosso rosto, meu Deus!”. Apesar de estarmos na primavera, um vento frio tentou virar a página e eu, com um arrepio, fechei os dois botões do paletó.

Nunca me lembraria disso se, no dia seguinte, não me tivessem dito que uma moça, de vinte e poucos anos, havia se atirado de um dos andares mais altos do prédio.

segunda-feira, outubro 17

Futilidade Púbica.

Conheça a Verdade: Perigo do Pão

Doctor Chesterton's Orthodoxy Pills.

WE have all forgotten what we really are. All that we call common sense and rationality and practicality and positivism only means that, for certain dead levels of our life, we forget that we have forgotten. All that we call spirit and art and ecstasy only means that, for one awful instant, we remember that we forget.

segunda-feira, outubro 10

Preconceitos, preconceitos.

Quem me conhece, sabe que eu sou um cara bastante tolerante - e se acham outra coisa, não têm coragem de dizer.
Acho que essa estória (o Houaiss diz que "estória", veja você, é uma palavra antiga, e que é o mesmo que "história"; mas não é, não), que essa estória de maiorias e minorias, de preconceitos, só serve para animar conversa. No dia-a-dia, no cara-a-cara, no mano-a-mano, tudo é no um-a-um. Quer dizer, é impossível você ter um preconceito contra as pessoas que você já conhece. E como eu só convivo com pessoas que já conheço, preconceito, para mim, não é grande coisa.
Reconheço, porém, que o preconceito deve influenciar muito a vida dos caixas de estação de metrô, que convivem com um monte de gente que não conhecem, e devem arrumar preconceitinhos para fazer o trabalho mais rápido:
Voz na Cabeça do Caixa: “Aí vem um japonês. Japonês só compra múltiplo 10. Pronto, separei.”
Japonês: “Um múltiplo 10, por favor.”
Caixa: “Pois não.”
Voz na Cabeça do Caixa: “Uôôô-lé...”
Mas tem gente que vive em função desses preconceitos. Tem gente, por exemplo, que ama as minorias, mesmo sem conhecê-las. Que, muito embora não goste de futebol, quando é obrigado a assistir um jogo, quer saber quem é o mais fraquinho, só para torcer contra o mais forte.
E há os que vivem por conta das minorias, como gigolôs dos desfavorecidos. Alguém, aliás, nesse quesito, acaba de bater recorde: vai ter um festival de cinema com uma programação especial direcionada à vida sexual dos surdos gays.
Achei, primeiro, que não ia ter lá muito público – afinal, não se ouve (epa!) falar de surdos gays todo dia. Mas aí lembrei que, quando era moleque, tinha aquela brincadeira que fazia muito sucesso:
Eu, falando bem baixinho: “Todo viado é surdo”
Amigo, distraído: “Ãhn?”
Aí, o potencial do mercado.

sexta-feira, outubro 7

Ei!

Ó meu blog aí na cow parade!

domingo, outubro 2

Porgy & Bess.

Em 30 de setembro de 1935, Boston assistiu à premiére de “Porgy and Bess” . Escrita por George Gershiwn a partir de uma história de Dorothy e DuBose Heyward, “Porgy and Bess” é uma ópera folk, que já foi levada, até, ao Scala – aliás, foi a primeira ópera escrita por um americano a chegar lá.

Como toda (boa) ópera, trata de vida e morte, desespero e amor – mais especificamente o amor de Porgy, um pobre aleijado de uma cidadezinha na Carolina do Sul, pela bela Bess, que é a mulher de um valentão local, preso por homicídio.

Pelas tantas, como o valentão vai em cana, Porgy acolhe Bess, que não tinha a quem recorrer. E, na volta daquele, vem o ponto alto da ópera, “I Loves You Porgy”. A música é de George, mas a letra é de Ira Gershwin (em co-autoria com os DuBose). Julgue por você, com a Nina Simone cantando:

I loves you, Porgy,
Don't let him take me
Don't let him handle me
And drive me mad
If you can keep me
I wanna stay here with you forever
And I'll be glad

Yes I loves you, Porgy,
Don't let him take me
Don't let him handle me
With his hot hands
If you can keep me
I wants to stay here with you forever
I've got my man

I loves you, Porgy,
Don't let him take me
Don't let him handle me
And drive me mad
If you can keep me
I wanna stay here with you forever
I've got my man
Someday I know he's coming to call me
He's going to handle me and hold me
So, it' going to be like dying, Porgy
When he calls me
But when he comes I know I'll have to go

I loves you, Porgy,
Don't let him take me
Honey, don't let him handle me and drive me mad
If you can keep me
I wanna stay here with you forever
I've got my man

Uma música dessa, claro que o Reverendo Brown queria cantar. Mas como ficava esquisito ele ficar falando que amava o Porgy, inventou sua própria história, e Porgy virou mulher. Aqui, a versão dele, maneiríssima.

Enjoy.