sexta-feira, novembro 25

Panacéia.

Após longas, exaustivas e divertidas pesquisas, acabo de descobrir o remédio para todos os males, especialmente os da alma. E, como não sou egoísta, passo a receita:

- num copo de bojo largo, despeje diversas pedras de gelo, preferencialmente simétricas;
- adicione duas partes de saquê de boa procedência e uma parte de absinto.

Pode-se adicionar açúcar, a gosto. E frutas vermelhas também não caem mal. Mas são acessórios.

Não há mal que resista a um ou dois copos.

Uma só ressalva: os impressionistas advertem que o consumo excessivo de absinto, quando associado a paixões irrefreadas, pode levar à perda de orelhas.

quarta-feira, novembro 23

Doctor Chesterton's Orthodoxy Pills.

"Keeping to one woman is a small price for so much as seeing one woman. To complain that I could only be married once was like complaining that I had only been born once."

terça-feira, novembro 15

And now, our feature presentation...

Minha boquirrotice já denunciou que entrei nos “..enta”, time do qual só se sai na horizontal. E alguém me disse hoje que ingressaria no prime da minha já longeva existência. A associação que fiz, sem querer, foi com o Supercine, de mais de vinte e cinco anos atrás.

Antes que o chateau Diacrônico adquirisse o vídeo-cassete, antes que se sonhasse com os devedês e com a tevê a cabo e, claro, antes que a Vênus Platinada se consolidasse como máquina de estupidificação nacional, o Supercine era onde via os filminhos que não poderia ter ido ver, no cinema.

Os sábados eram ótimos – todos são, quando se tem treze ou quatorze anos – o corpo já estava cansadinho da correria, o jantar era sempre cheio de junkie food, e o Supercine vinha lá pela nove-e-meia, hora que não chegava nunca.

O começo era sempre um pouco angustiante: era bom que viesse logo, mas, ao mesmo tempo, o início do filme indicava o fim do sábado. Depois dele, só o Corujão, que eu invariavelmente assistia.

Assim espero que sejam os quarenta: ação, comédia, aventura e, Deus permita, algumas cenas de séquiço tórrido.

O que vem depois, já percebi, é justamente o velho Corujão – pode até ter coisa boa, mas vou estar com sono demais para aproveitar.

quinta-feira, novembro 10

Hoje.

Uma das quarenta vidraças que compõem o 21º andar reflete a tela do micro, enquanto digito, no escuro.

Há pouco, ainda podia ver o céu avermelhado, com nuvens negras passando em apressado desfile de fim-de-tarde. Agora, vejo as torres e as luzes da Paulista, distantes. O media player, de tudo o que trago no HD, escolheu a Sonata ao Luar.

Lá fora, horário de verão, o relógio do Itaú acusa que são mais de oito da noite, e faz 14 graus.

Também sinto, aqui dentro, um frio fora de época.

A Vida é Bela.

Não costumo pedir nada a você, que já me lê por favor.
Mas quando puder, clique aqui, apague as luzes (ou feche os olhos) e ouça.

Barcarolle des contes d'Hoffmann

Belle nuit
Oh nuit d'amour
Souris à nos ivresses
Nuit plus douce que le jour
Oh belle nuit d'amour
Le temps fuit et sans retour
Emporte nos tendresses
Loin de cet heureux séjour
Le temps fuit sans retour
Zéphyrs embrasés
Bercez-nous de vos caresses
Zéphyrs embrasés
Bercez-nous de vos caresses
Donnez-nous vos baisers
Bercez-nous
De vos baisers
Bercez-nous
De vos baisers
Belle nuit
Oh nuit d'amour
Souris à nos ivresses
Nuit plus douce que le jour
Oh belle nuit d'amour
Oh belle nuit d'amour
Souris à nos ivresses
Souris à nos ivresses
Nuit d'amour
Belle nuit
Oh belle nuit d'amour

(Quem canta? Teresa Berganza e Montserrat Caballé.)

segunda-feira, novembro 7

Macbestha.

No fatídico dia 13, em que nasci, a cândida beleza da minha mãe, a incontornável retidão moral do senhor meu pai e a corada felicidade em que viviam, causavam inveja em todos os habitantes do Principado do Tatuapé.

As mais rancorosas eram as infelizes feiticeiras que viviam ao redor de nosso castelo, o Santa Virgínia.

A da esquerda, que estremecia a cada riso de alegria que lhe chegava aos ouvidos, lançou-me grave feitiço: “O menino que hoje nasce não conseguirá nunca ser otimista, nem cego às circunstâncias. Está condenado a ver e entender as coisas como são. Consciência terás! Anon!”

A do centro, invejosa, mas direta, praguejou: “Serás para sempre um bobão”.

A da direita, ainda mais maldosa que as outras duas, fez seu mal em verso: “Ah, criança invejada, / meu feitiço será mais forte que sezão/ não importa a palavra falada, / sempre terás razão!”

Dizem, contudo – há quem negue – que uma fada benfazeja, ao ver tanta desgraça vaticinada, embora não pudesse com os feitiços, limitou seus efeitos a quatro décadas, prevendo que, nessa segunda infância, tudo seria diferente.

Chega a data cabalística e, pelo jeito, não tinha fada nenhuma, mesmo.

terça-feira, novembro 1

Los Hermanos.

Acabei de ouvir uma notícia no rádio que me pareceu incrível: uns argentinos cansaram de esperar um trem, que sempre atrasa, e atearam fogo nos vagões, na estação. Depredaram tudo ao redor, saquearam lojas e farmácias. A polícia conteve a turba com balas de borracha e bombas de gás. Foram dezoito feridos.

Até aí, nada de extraordinário. Mas o repórter completou:
“Os ferroviários, em solidariedade, entraram em greve”.

Juro.

Doctor Chesterton's Orthodoxy Pills

Oscar Wilde said that sunsets were not valued because we could not pay for sunsets. But Oscar Wilde was wrong; we can pay for sunsets. We can pay for them by not being Oscar Wilde.