Bad Behaviour.
Mais um artiguete pro jornal da famiglia. Ando bestamente sem inspiração.
Condicionamento político.
Todos conhecem a teoria do condicionamento clássico, enunciada pelo russo Ivan Pavlov, a partir da experiência com um cachorro: acostumando-se o cão a receber comida logo após o toque de uma campainha, consegue-se, em pouco tempo, que o cão salive, apenas ao ouvir a mesma campainha.
Percebendo que esse comportamento não era exclusivo de animais – ao contrário, era ainda mais pronunciado nos humanos – a teoria foi sendo desenvolvida, até chegar ao behaviorismo, ou teoria comportamental, formulada pelo norte-americano Burrhus Skinner, que, para simplificar, é a análise do comportamento humano do ponto de vista filosófico. Ou, para simplificar ainda mais: é uma tentativa de explicar o que somos, e o que fazemos, a partir de nossos comportamentos.
Todas essas teorias têm muito do evolucionismo: o ser humano aprende essencialmente através da imitação, observação e reprodução dos comportamentos dos outros; é possível apreender uma variedade de comportamentos, do mais simples ao mais complexo, sem que os tenhamos que experimentar. Logo, a fonte dos comportamentos é também o ambiente, e não apenas a mente e a vontade individuais.
Para resumir isso tudo, e ir ao ponto onde eu quero chegar: não somos apenas o que somos – somos, em boa parte, aquilo que os outros esperam que sejamos.
Por isso, se você disser para o seu filho, todo dia, por uns cinco anos, que ele é muito desobediente, você decerto vai acabar tendo um filho desobediente. E se te disseram, desde criancinha, que você não tinha jeito para desenho, você, hoje, dificilmente conseguirá fazer um círculo razoavelmente redondo.
O fato é que essa teoria comportamental funciona muito bem para coisas negativas. Para as coisas positivas, mais raramente, mas ainda assim eu me recordo de ouvir, lá pelos dez anos de idade, a Madre Superiora do colégio onde estudava, dizer para a minha mãe que me achava muito perspicaz. Era um elogio exagerado – tanto que eu nem sabia o que era perspicaz. Mas depois que descobri, me achei, mesmo, muito perspicazinho. E fui me esforçando para ficar mais perspicaz, com o passar do tempo. Acho, até, que a perspicácia é a minha principal – senão única – virtude.
Para os nossos representantes políticos – e era aqui que eu queria chegar – estamos dizendo, há pelo menos quarenta anos que não prestam para nada, que não têm moral, que estão lá apenas para se locupletarem. Que são, enfim, uma corja. Não nos limitamos a elegê-los: damos a eles a linha que devem seguir, nos seus mandatos.
Quantas pessoas você conhece que tenha, alguma vez, procurado um político para conhecer a sua posição sobre determinado assunto – o aborto, a pena de morte, o orçamento, o que for. Quantas? Provavelmente nenhuma.
E quantas conhecemos que vão aos gabinetes com ar sofrido, pedir a intercessão da autoridade para um carguinho para a nora, ou uma ajudinha na matrícula de um filho nesta ou naquela escola, ou para conseguir um contrato, ou para obter um favor qualquer? Centenas, milhares.
Pouca gente acha errado pedir favor a políticos: há quem pense que estão lá para isso, mesmo. Mas as mesmas pessoas acham erradíssimo que eles façam favores para si mesmos...
Somos, enfim, responsáveis pelo comportamento dos nossos representantes, porque agem conforme esperamos que ajam, conforme sempre dissemos que agiam, conforme sempre esperamos que agissem. E hoje, depois de tanto tempo de condicionamento, basta soar a campainha da maquininha de votar, para que saiam todos salivando, como cães famintos.
Todos conhecem a teoria do condicionamento clássico, enunciada pelo russo Ivan Pavlov, a partir da experiência com um cachorro: acostumando-se o cão a receber comida logo após o toque de uma campainha, consegue-se, em pouco tempo, que o cão salive, apenas ao ouvir a mesma campainha.
Percebendo que esse comportamento não era exclusivo de animais – ao contrário, era ainda mais pronunciado nos humanos – a teoria foi sendo desenvolvida, até chegar ao behaviorismo, ou teoria comportamental, formulada pelo norte-americano Burrhus Skinner, que, para simplificar, é a análise do comportamento humano do ponto de vista filosófico. Ou, para simplificar ainda mais: é uma tentativa de explicar o que somos, e o que fazemos, a partir de nossos comportamentos.
Todas essas teorias têm muito do evolucionismo: o ser humano aprende essencialmente através da imitação, observação e reprodução dos comportamentos dos outros; é possível apreender uma variedade de comportamentos, do mais simples ao mais complexo, sem que os tenhamos que experimentar. Logo, a fonte dos comportamentos é também o ambiente, e não apenas a mente e a vontade individuais.
Para resumir isso tudo, e ir ao ponto onde eu quero chegar: não somos apenas o que somos – somos, em boa parte, aquilo que os outros esperam que sejamos.
Por isso, se você disser para o seu filho, todo dia, por uns cinco anos, que ele é muito desobediente, você decerto vai acabar tendo um filho desobediente. E se te disseram, desde criancinha, que você não tinha jeito para desenho, você, hoje, dificilmente conseguirá fazer um círculo razoavelmente redondo.
O fato é que essa teoria comportamental funciona muito bem para coisas negativas. Para as coisas positivas, mais raramente, mas ainda assim eu me recordo de ouvir, lá pelos dez anos de idade, a Madre Superiora do colégio onde estudava, dizer para a minha mãe que me achava muito perspicaz. Era um elogio exagerado – tanto que eu nem sabia o que era perspicaz. Mas depois que descobri, me achei, mesmo, muito perspicazinho. E fui me esforçando para ficar mais perspicaz, com o passar do tempo. Acho, até, que a perspicácia é a minha principal – senão única – virtude.
Para os nossos representantes políticos – e era aqui que eu queria chegar – estamos dizendo, há pelo menos quarenta anos que não prestam para nada, que não têm moral, que estão lá apenas para se locupletarem. Que são, enfim, uma corja. Não nos limitamos a elegê-los: damos a eles a linha que devem seguir, nos seus mandatos.
Quantas pessoas você conhece que tenha, alguma vez, procurado um político para conhecer a sua posição sobre determinado assunto – o aborto, a pena de morte, o orçamento, o que for. Quantas? Provavelmente nenhuma.
E quantas conhecemos que vão aos gabinetes com ar sofrido, pedir a intercessão da autoridade para um carguinho para a nora, ou uma ajudinha na matrícula de um filho nesta ou naquela escola, ou para conseguir um contrato, ou para obter um favor qualquer? Centenas, milhares.
Pouca gente acha errado pedir favor a políticos: há quem pense que estão lá para isso, mesmo. Mas as mesmas pessoas acham erradíssimo que eles façam favores para si mesmos...
Somos, enfim, responsáveis pelo comportamento dos nossos representantes, porque agem conforme esperamos que ajam, conforme sempre dissemos que agiam, conforme sempre esperamos que agissem. E hoje, depois de tanto tempo de condicionamento, basta soar a campainha da maquininha de votar, para que saiam todos salivando, como cães famintos.