É o amor.
Já disse e repito: amor é pecado.
Não me venham com essa de que o amor é que nos redime; que o amor é a solução para as guerras e para a fome no mundo; que o amor reduz a criminalidade; que o amor emagrece, diminui o colesterol e combate os radicais livres; que o amor é lindo.
É o cacete.
Amor é egoísmo ao quadrado.
Amor de pai com os filhos (que acontece de ser uma das especialidades da casa), por exemplo, não dispensa uns carinhosinhos, de quando em quando. E aumenta com o orgulho de uma bola bem chutada, um desenho caprichado ou a primeira palavra escrita – e orgulho, aliás, é a variação light da soberba, um dos sete capitais.
Nem amor de mãe é altruísta – experimenta dizer que prefere a massa mais al dente, ou tente não ir ao casamento do primo Niltinho, ou, se quiser arriscar mesmo, case com uma mulher com tatuagem. Tudo porque mamãe gosta de você, claro – mas só se você gostar dela de volta. E demonstrar isso com uma obediência kamikaze.
Amor de homem e mulher, então, quase nem preciso explicar. Só nos livros do Camilo a mocinha gosta tanto do lindão que aceita que ele fique com a outra, que ele ama. E, ainda assim, de ter a vontade contrariada, acaba sempre num convento, ou maluca. Ou as duas coisas.
Por isso, já disse e repito: o pecado original não é comer a maçã, não é comer a Eva, não é o egoísmo.
É o amor.