Q.I.A.D.
Sobre livros infantis, já falei aí embaixo.
Mas agora, inspirado pelo Arranhaponte, do dialético Torre de Marfim, e pelo Oscar que recém-não-vi, ouso atacar o cinema infantil.
Minha filha, de cinco anos, não gosta de ir ao cinema: “fica aquele monte de gente, de cabeça atrapalhando”. Prefere o home-theater e a pipoca que eu faço – que leva azeite no começo, e manteiga Viação derretida, no final.
Por isso, tenho uma fieira de devedês, e já decorei falas e falas do Procurando Nemo (tanto que às vezes tenho dificuldade em evitar expressões em balêes, nas minhas conversas); sei cantar a trilha sonora do Tarzan imitando o Ed Motta; e poderia desenhar de cabeça o story-board do Stewart Little (isso, se soubesse desenhar, claro).
De tanto ver esses desenhos, desenvolvi um critério que permite classificar a obra infantil em seus diversos níveis de chatice: trata-se do QIAD – Quociente de Imposição de Aceitação Diferenças. Nenhum filme ou desenho infantil parece estar livre dessa moda, que é mostrar a todos uma absoluta novidade: somos diferentes, uns dos outros, e devemos nos aceitar, sejam quais forem nossas diferenças. E não podemos ficar por aí tirando sarro de gordinhos, baixinhos, chinesinhos, italianinhos, judeuzinhos, pretinhos, quatro-olhinos, narigudinhos, gueizinhos, mulherinhas, nerdinhos, mariquinhas. Muito feio, isso. Tut-tut.
Os filmes com alto QIAD são, pelo menos, honestos: tratam todos, indistintamente, como se fossem retardadinhos. Por isso, quanto mais alto o QIAD, maior a chatice.
O campeão absoluto de QIAD é o Espanta Tubarões, que retrata a melancólica vida de um travesti bobalhão, que tem que ser aceito por seu pai chauvinista. É como se o Poderoso Chefão fosse filmado pelo Almodóvar.
O Deu Zebra vem em segundo lugar, atingindo altíssimo teor de QIAD, ao tentar convencer o mundo que zebras são tão rápidas quanto cavalos ingleses de puro sangue - mesmo que estes tenham pernas duas vezes maiores e sejam treinados, a vida inteira, para correr. Lembra, sei lá por quê, aquele velho filme inspirado nos jamaicanos que foram correr de bob-sled numa olimpíada de inverno – só que é bem mais chato. E, para completar, tem o Matheus Nachtergaele e o João Gordo fazendo – há papel mais baixo? – as vozes das moscas no cocô do cavalo do bandido.
Mas agora, inspirado pelo Arranhaponte, do dialético Torre de Marfim, e pelo Oscar que recém-não-vi, ouso atacar o cinema infantil.
Minha filha, de cinco anos, não gosta de ir ao cinema: “fica aquele monte de gente, de cabeça atrapalhando”. Prefere o home-theater e a pipoca que eu faço – que leva azeite no começo, e manteiga Viação derretida, no final.
Por isso, tenho uma fieira de devedês, e já decorei falas e falas do Procurando Nemo (tanto que às vezes tenho dificuldade em evitar expressões em balêes, nas minhas conversas); sei cantar a trilha sonora do Tarzan imitando o Ed Motta; e poderia desenhar de cabeça o story-board do Stewart Little (isso, se soubesse desenhar, claro).
De tanto ver esses desenhos, desenvolvi um critério que permite classificar a obra infantil em seus diversos níveis de chatice: trata-se do QIAD – Quociente de Imposição de Aceitação Diferenças. Nenhum filme ou desenho infantil parece estar livre dessa moda, que é mostrar a todos uma absoluta novidade: somos diferentes, uns dos outros, e devemos nos aceitar, sejam quais forem nossas diferenças. E não podemos ficar por aí tirando sarro de gordinhos, baixinhos, chinesinhos, italianinhos, judeuzinhos, pretinhos, quatro-olhinos, narigudinhos, gueizinhos, mulherinhas, nerdinhos, mariquinhas. Muito feio, isso. Tut-tut.
Os filmes com alto QIAD são, pelo menos, honestos: tratam todos, indistintamente, como se fossem retardadinhos. Por isso, quanto mais alto o QIAD, maior a chatice.
O campeão absoluto de QIAD é o Espanta Tubarões, que retrata a melancólica vida de um travesti bobalhão, que tem que ser aceito por seu pai chauvinista. É como se o Poderoso Chefão fosse filmado pelo Almodóvar.
O Deu Zebra vem em segundo lugar, atingindo altíssimo teor de QIAD, ao tentar convencer o mundo que zebras são tão rápidas quanto cavalos ingleses de puro sangue - mesmo que estes tenham pernas duas vezes maiores e sejam treinados, a vida inteira, para correr. Lembra, sei lá por quê, aquele velho filme inspirado nos jamaicanos que foram correr de bob-sled numa olimpíada de inverno – só que é bem mais chato. E, para completar, tem o Matheus Nachtergaele e o João Gordo fazendo – há papel mais baixo? – as vozes das moscas no cocô do cavalo do bandido.
Aliás, não vejo a hora do cinema nacional, além do Didi e da Xuxa, dedicar-se à área. Mal posso esperar pelo Paulo César Pereio dublando o saci-pererê numa original aventura amazônica, contra os exploradores gringos. De entremeio o saci, buscando atingir o QIAD sem perder o bom humor nativo, pensaria, voz em off, “ser humano é quem nem caminhão de japoneis, porra”.
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