sexta-feira, setembro 16

Greve!

Tive uma sorte danada: sempre que dei aulas, não precisava do salário de professor.

- Epa, não precisava de dinheiro? Era milionário, filhinho-de-papai?

Não, não é isso – sou lá da Zona Leste (aê, zê-éle na fita, u-hú), crasse média. E precisar, até que precisava. Mas não precisaaaava. Meu primeiro cheque-salário, de seis horas-aula dadas num sábado de manhã, gastei inteirinho na Cultura. Ainda tenho o The Thin Man e o Maltese Falcon, do Dashiell Hammet para provar. Ainda hoje acho que gastei bem o dinheiro. Mas não foi em coxinhas, em passes de ônibus, em mensalidade escolar, essas coisas.

Depois, continuei com as aulinhas por um bom tempo. Mas não resisti, e arranjei trabalhos de verdade, desses de adulto, mesmo. Ganhava bem, mas não parei de dar aulas, até o semestre passado, quando a faculdade desistiu de continuar. Mas nunca liguei para o que ganhava como professor: sempre gastei tudo em pinga.

Por isso, sempre que vejo uma greve de professores – sobretudo os da pior rede de ensino no mundo – me dá pena desse povo sofrido, que sacrifica o prazer de dar aulas, para pedir mais dinheiro. Uma dó, como diria uma dessas doloridas professoras de Português.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

não sei se é culpa do calor ou do desgaste depois de uma semana fedasunha de tanto trabalho... mas ainda não sei o que pensar sobre o q vc escreveu. Assim q souber, direi. beijos pra vc.

16.9.05  
Anonymous Anônimo disse...

... o problema acontece quando os educadores não sacrificam o prazer de dar aulas, uma vez que não o tem.


Isso sem mencionar que é possivel sentir esse prazer em salas da, digamos, iniciativa privada.

16.9.05  

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