segunda-feira, julho 25

Wonka.


Não sou crítico de literatura, menos ainda de cinema. Mas não aprendo, e continuo confiando em críticos de literatura e de cinema. Do pouco que vi – Estadão e Folha, sobretudo – ninguém falou mal da Fantástica Fábrica de Chocolate. O máximo que disseram é que o Depp não parece, não senhor, com o Michael Jackson. Mas o filme é uma bela porcaria.
Há coisa de um mês, li para a minha filha de 4 anos, o livro do Road Dahl, que eu mesmo tinha lido lá pelos 10. O livro é bacaninha: fantasia curta, terna e cuja única intenção é mostrar um menino bonzinho, comparado com quatro cretininhos – um guloso; uma mascadora de chicletes; uma ranhetinha mimada e um viciado em TV. O melhor do livro é o clima de Dickens, no frio, na neve, na rala sopa de repolho e nas seguidas decepções com as aberturas das barras Wonkas. Até que aparece o cumpom dourado, e começa a trama. Pronto, só isso.
Lido o livro, arranjei o DVD com a primeira versão do filme, Gene Wilder, como Willy Wonka. Envelheceu, envelheceu. E há algumas diferenças (não são esquilos que se desfazem da Veroca Sal, noz oca, mas patos que se livram dela, como uma bad egg) e alguns acréscimos – o pior deles, fazer o Charlie Bucket e o avô beberem um troço que não deviam (no filme, eles eram bonzinhos mas, ah, não eram de ferro). E a proposta da venda da bala interminável, como teste de honestidade (que não há, no livro), até que não foi das piores idéias.
O novo filme, Tim Burton e cenários sombrios à frente, acrescenta um passado ao Sr. Wonka: ele teria sido vítima de um pai dentista, que o fazia usar aparelhos que evocam os de Hannie Lecter. Por isso, vingou-se, virando o maior fabricante de doces do mundo. Com esse acréscimo froidiano de almanaque, o final vai para as cucuias: o filme não termina – esgota-se.
Os umpa-lumpas, que já no primeiro filme são anões mal-maquiados e não repetem os homenzinhos do livro, neste último acabaram de perder o encanto, num efeito digital que multiplica a sem-gracice. E ainda quiseram inventar a roda: não cantaram umpa-lumpa, dupa di-du, como era de se esperar.
Além disso, há as ridículas referências cinematográficas – que eu vi, ao 2001 e ao Eduardo Mãos-de-Tesoura, esta duplamente cabotina – e uma grande chance de Johnny Depp deixar passar um roteiro sem se melar. Willy Wonca, até para a minha filha de 4 anos, continua sendo o Gene Wilder.
A mãe dela, melhor crítica de cinema que eu conheço (não dorme no filme, e ainda me cutuca, para eu acordar) completou: quem nasceu para Burton, nunca chega a Spielberg.

4 Comentários:

Blogger Odorico Leal disse...

Rapaz, eu queria esse bonequinho. Não vi ainda o filme. A idéia do passado do Wonka com um pai dentista mais me parece uma historinha infantil, sem pretensão freudiana. Se for assim, talvez funcione pra mim.

Olá.

Obrigado pelo link.

Abraço,

25.7.05  
Blogger mauro disse...

Olá, Ludovico.

Não há de quê. Leio-o de costume, lincar ajuda a achar a página.

A idéia, ouvida assim, pode até não parecer ruim - sobretudo para quem sofreu na fase oral...

Mas vendo o filme, você vai perceber que o Wonka é meio esquizofrênico; não consegue pronunciar "papai" sem ter engulhos. Froidiano, froidiano. E muito sem gracinha.

Os bonecos, são feitos por um certo Robert Harrop (http://content.blackcountry.com/harrop/index.html). Se quisé-los mesmo, têm preço. E não são baratos. Veja, aqui: http://www.greenwichcollectables.com/shop/page51.htm.

Abraço!

25.7.05  
Anonymous Anônimo disse...

que pena que seja ruim... agora q ja combinei com meu filho irei.mas com uma pulguita atras da orelha... beijos pra vc!

28.7.05  
Anonymous Anônimo disse...

Sem musiquinha de Umpa Lumpa?

Que farsa...

29.7.05  

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