Parágrafo terceiro.
Nasceu em Palmeira dos Índios. Mas veio com a mãe para São Paulo, ainda no colo. Só um resto teimoso de sotaque denunciava sua procedência: pai e mãe nada tinham de Cariri ou de Xucuru; eram de pele clara e olhos verdes, legítimos descendentes de Maurício de Nassau.
Eram primos de sangue, mas o padre não fez ressalva nenhuma: Graciliano, que já beirava os quarenta, era dono da maior venda da região e tinha fama de matador. A mãe, Iamar, mal completara dezesseis anos e era, de longe, a mais cobiçada da cidade. Se ficasse solteira muito tempo, certamente traria desgraça para um cabra, ou dois.
Casaram e Iamar engravidou cedo. Como a casa era nova, e Graciliano exigente, fazia de tudo: plantava e colhia da horta dos fundos; alimentava a vaca e os porcos; cozinhava; lavava e esfregava o chão; cosia as roupas; preparava o enxoval do bebê. Talvez pelo muito esforço, a bolsa estourou antes da trigésima-quinta semana. Teve que ser levada às carreiras ao posto-de-saúde, para parir.
O médico, recém-vindo de Pernambuco, adivinhou no cansaço do corpo de menina uma vida dura e previu muitos partos; morte na juventude. Chamou Graciliano quando ainda tinha aberto o corte da cesária, recomendou laqueadura, falou em risco de vida, e exigiu decisão imediata. Graciliano, assustado com a fluência do moço, só fez anuir, de cabeça baixa. Não compreendera que nunca mais teria outro filho de Iamar.
Quando soube da esterilidade da mulher, culpou-a e a esbofeteou sem remorsos. Queria filho homem; queria muitos filhos, porra!
Afastou-se da casa, da mulher e da filha. Só ia ao quarto bêbado e mudo.
Iamar agüentou o que pôde e agarrou-se angustiada à filha, única, única. No fim de dois anos de casamento, viu os olhos embriagados de Graciliano mirarem a pequena, com a boca sorrindo saliva ácida. Passou seis meses vendendo o que podia vender, e ajuntando cada trocado. Pegou a menina e, num domingo de sol, entrou num ônibus que, depois de dias na estrada dura, as depositou no Terminal Rodoviário do Tietê.
Eram primos de sangue, mas o padre não fez ressalva nenhuma: Graciliano, que já beirava os quarenta, era dono da maior venda da região e tinha fama de matador. A mãe, Iamar, mal completara dezesseis anos e era, de longe, a mais cobiçada da cidade. Se ficasse solteira muito tempo, certamente traria desgraça para um cabra, ou dois.
Casaram e Iamar engravidou cedo. Como a casa era nova, e Graciliano exigente, fazia de tudo: plantava e colhia da horta dos fundos; alimentava a vaca e os porcos; cozinhava; lavava e esfregava o chão; cosia as roupas; preparava o enxoval do bebê. Talvez pelo muito esforço, a bolsa estourou antes da trigésima-quinta semana. Teve que ser levada às carreiras ao posto-de-saúde, para parir.
O médico, recém-vindo de Pernambuco, adivinhou no cansaço do corpo de menina uma vida dura e previu muitos partos; morte na juventude. Chamou Graciliano quando ainda tinha aberto o corte da cesária, recomendou laqueadura, falou em risco de vida, e exigiu decisão imediata. Graciliano, assustado com a fluência do moço, só fez anuir, de cabeça baixa. Não compreendera que nunca mais teria outro filho de Iamar.
Quando soube da esterilidade da mulher, culpou-a e a esbofeteou sem remorsos. Queria filho homem; queria muitos filhos, porra!
Afastou-se da casa, da mulher e da filha. Só ia ao quarto bêbado e mudo.
Iamar agüentou o que pôde e agarrou-se angustiada à filha, única, única. No fim de dois anos de casamento, viu os olhos embriagados de Graciliano mirarem a pequena, com a boca sorrindo saliva ácida. Passou seis meses vendendo o que podia vender, e ajuntando cada trocado. Pegou a menina e, num domingo de sol, entrou num ônibus que, depois de dias na estrada dura, as depositou no Terminal Rodoviário do Tietê.
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