segunda-feira, março 28

Fé, certeza e esperança.

Não me lembro de ter visto, com tanta clareza, a oposição entre ciência e religião, como no caso da senhora Terri Schiavo – cujo sobrenome, aliás, parece ter sido escolhido sob medida.

Num canto do ringue, sempre com calções brancos, a ciência garante que a senhora Schiavo não tem mais nenhuma percepção do mundo exterior, não sente dor, não sente felicidade, não reage a nada. E que os esboços de sorrisos e as expressões alteradas que sua família captou em vídeo, para usar como prova judicial, não são mais que reflexos instintivos.

No outro canto, com calções eternamente negros, a religião garante que não há certeza do fim da vida que, dom supremo, não pode ser interrompida voluntariamente.

Invejo, nos médicos que declararam a “morte cerebral”, a certeza de que não há mais vida. Da mesma forma, invejo, nos religiosos, a fé que os leva a ver alma até onde não há mais vida.

Só não invejo os pais da senhora Schiavo – estes, embora se diga que têm apenas fé, têm mais que isso: têm esperança, que é sentimento muito mais cego, muito mais irracional e, curiosamente, muito mais humano. É cruel vê-la despedaçada nos tribunais.

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