quinta-feira, maio 12

Dopo domani.

Passou-me pela cabeça escrever sobre a linguagem como o castigo divino pelo pecado original.
Eu decerto li isso em algum canto, mas absorvi tão bem que agora acho que a idéia é minha. De fato, eu sempre acreditei que o pecado original é o egoísmo e que o castigo, por ele, é a nossa eterna ignorância sobre as coisas divinas, que nunca vamos compreender porque estamos presos à linguagem, à metáfora. Nunca conseguimos entender (nem explicar) nada sem dar um exemplo. E, como as coisas divinas não têm comparação possível, ficamos assim, dando com a cara no muro. Por exemplo.

Aí achei que ia ser muito chato desenvolver essa idéia agora, que nem minha deve ser. E, além disso, estou lendo o último livro do João Paulo II e estou mudando de idéia em relação a tudo isso. Preferi, assim, colocar um trechinho do Álvaro de Campos, sempre o melhor P’ssoa:

“Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã.
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.”

Então, toda aquela história fica prá depois de amanhã, quando serei, finalmente, o que hoje não posso nunca ser
.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

quero pensar sobre o que quero,
sobre meu pecado (nada original)
sobre o que me ata às metaforas,
mas não vou pensar sobre isso agora.
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã.
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.

12.5.05  

Postar um comentário

<< Home