sexta-feira, abril 8

Sutaque.

Não sei se é vicio ou virtude, mas sofro da síndrome de Zelig, sobretudo na sua variação fonética: não consigo ficar perto de alguém sem falar como essa pessoa fala.

Isso rende muitos risinhos abafados no escritório, quando atendo algum telefonema do Rio e começo a estender as vogaaais, a botar um h depoish de cada s e chaamaaar uis caaarash de mermããão.

Minha mulher me cutuca, sempre que vamos à Bahia, achando que eu estou falando mole daquele jeito para gozar o garçom.

Mas tem suas vantagens: há alguns anos, em Cinque Terre, embora o meu italiano nunca tenha saído da Moóca, só com o meu involuntário sotaque enganei um velhinho, que me deu um quarto ótimo, na pensão, achando que eu vinha de Salerno. O downside é que ele falou italiano como se estivesse falando com um vero napolitano e eu (embora sorrisse e confirmasse tudo) não entendi lhufas, só o nome de uma praia (Guvano).

No dia seguinte, curioso para ver a tal praia, descobri que lá se chega por um antigo túnel ferroviário. E horas de caminhada mais tarde, num túnel escuro e sujo, desembocamos, eu e minha mulher, numa praia de nudismo, cheia de italianos chapados. Tive que botar meu sotaque em ação de novo, para explicar o engano e cair fora vestido e ileso.

O que o velhinho me dizia, eu só soube mais tarde: vá a qualquer lugar, só não se meta na Spiaggia di Guvano...

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

olha só: sou assim também. Sem querer canto a música que me falam. Passei um mês a trabalho em Porto Alegre, ano passado. bah, guri, foi tri dificil explicar que mesmo com essa cara de gaúcha e com sotaque tão típico eu era do norte. Foi... pela primeira vez me senti nortista por ter nascido ao norte de onde estava. Weird prejudiced feeling. Bisous.

9.4.05  

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